Tenho as pestanas dos olhos a tremerem. A trememem de uma nervosa electricidade.
Tenho o corpo desconfortável. Húmido do tempo e a cabeça com um fumo esbranquiçado cuja dor subtil se repercute pela garganta. O peito sente-se frágil e pesado. O tronco tísico, raquítico.
Como uma marioneta descordenada do sentido natural das coisas.
Tenho fome e não sei o que comer. Estou cheio. Estou aborrecido. Estou com preguiça de ser vivo. Sem saber de que me devo alimentar.
Sinto os meus dedos a arder, estes apêndices a mais, as pernas emagrecidas e o cabelo a adoecer...
Sinto uma estúpida vontade sexual. Enrolo-me nos cobertores para tentar saciar os desejos deste boneco tonto. E quero estar em silêncio...
Quero desfazer e reconstruir de novo este desenho. Quando estou quieto pareço que murcho. Quando estou em movimento pareço um esboço desastrado. É de tédio iriçado que vejo o meu corpo a coordenar-se para a frente. Apetecia-me cortar as cordas. Será que aguentava a longa noite de sono? A performance do não-ser. Absurda como a estar aqui só.
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